O Biota Brasil fez uma entrevista com o biólogo "Fabio Nunes”, que é o coordenador do projeto de conservação Periquito Cara-Suja desenvolvido pela ONG Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos - Aquasis, com sede em Guaramiranga, foto. Esse projeto busca a conservação desta ave que é o periquito brasileiro mais ameaçado de extinção. O Periquito Cara-Suja é conhecido também por Tiriba de peito cinza (Pyrrhura Griseipectus) a extinção desta espécie é dada principalmente pelo tráfico de animais silvestres e pela degradação de seu habitar natural, trata-se de uma espécie endêmica brasileira e que só ocorrem em pequenas regiões do estado do Ceará e Pernambuco. Confira abaixo nossa entrevista:
Fabio o que levou o Periquito Cara-Suja a entrar nesse quadro de extinção?
As principais causas foram perda de habitat (fragmentação florestal, extração vegetal, desmatamento, queimadas, etc.) e tráfico ilegal da espécie. Existem vários critérios que são analisados para determinar o status de ameaça de uma espécie. O do cara-suja se aplica principalmente (A) População muito pequena e em declínio; (B) Distribuição Geográfica restrita.
Quais são as atividade desenvolvidas por vocês para que esse quadro seja revertido?
Ações de conservação - A AQUASIS realiza ações de conservação na Serra de Baturité desde 2007, através de pesquisas de campo relacionadas a biologia (reprodutiva e comportamental) e distribuição e da espécie que são revertidas em ações de conservação como forma de salvar o cara-suja e seu ambiente, onde vivem mais 12 tipos de aves ameaçadas de extinção.
Atualmente estamos ofertando ambientes de reprodução (caixas-ninho) como forma de suprir esta carência na natureza, uma vez que a mata da Serra de Baturité está em pleno processo de regeneração, sua mata é relativamente jovem e, portanto, os ocos naturais ainda são escassos. Num futuro, esperamos trabalhar com a reabilitação de espécie que estão em cativeiro, mas para isso precisamos de infraestrutura e de um bom planejamento. Proteção do habitat da espécie e políticas públicas – A AQUASIS apoia a criação de áreas protegidas e participa da gestão das áreas existentes, como a APA da Serra de Baturité, da qual somos titulares do Conselho Consultivo desta Unidade de Conservação. Além disso, esperamos criar uma lista estadual de espécies ameaçadas que subsidie legislação específica na proteção do cara-suja e outras espécies.
Campanhas de educação ambiental – A AQUASIS, desde 2007, trabalha em campanhas de conscientização da população a respeito da importância da biodiversidade nas nossas vidas e os problemas gerados com a perda desse importante componente dos ecossistemas, estimulando mudanças de atitude para construção de uma sociedade sustentável.
Qual a importância e o papel do Periquito Cara-Suja dentro do equilíbrio de nossa biodiversidade?
A extinção é um processo natural, porém, atualmente a taxa de extinção está 1000 vezes superior a taxa natural. O periquito cara-suja é uma espécie símbolo e indicadora do desequilíbrio gerado pelo homem no nosso planeta. Como qualquer outros ser vivo que levou milhões de anos para adaptar às pressões seletivas do ambiente, o periquito cara-suja e os outros seres vivos, fazem parte da nossa biodiversidade, e a perda deste componente em nossos ecossistemas gera um desequilíbrio as vezes pouco detectável em curto prazo mas que fatalmente leva aos colapsos ecológico, que é a perda dos serviços ecológicos, ou seja, os serviços gratuitos gerados pela natureza à sociedade como: fertilidade do solo, produção de água e alimentos, controle climático, polinização, dispersão de sementes, lazer, dentre muitas coisas que se revertem em qualidade de vida para os seres humanos. Além disso, acreditamos que do ponto de vista moral, cada ser vivo tem direito de viver neste planeta.
Vocês percebem a preocupação e participação das pessoas da região diante desse problema?
Apesar de saber que é errado caçar e aprisionar um animal em uma gaiola, muitas pessoas na região ainda praticam estas atividades. Porém, percebe-se uma diminuição destas práticas, seja pela conscientização, seja pela repreensão das leis que protegem a fauna e flora. Vale destacar que o trabalho de conservação promovido pela AQUASIS só é possível graças aos proprietários de terra onde ocorrem o periquito cara-suja que permitem a colocação de caixas-ninho e, além de auxiliar vigiar o local contra os traficantes de aves, dão um grande exemplo para a comunidade local, que tem efeito disseminador.
Verificamos no site que vocês estão conseguindo fazer a reprodução dessa aves em ninhos artificiais. Quantos filhotes já nasceram desses ninhos? Quais as características reprodutivas dessa espécie? São aves monogâmicas? Com esse trabalho já se pode perceber que os numero de indivíduos esta crescendo ou a proporção de predação é maior que a reprodução?
A estimativa populacional oficial da espécie é de menos de 250 indivíduos na natureza. Somente neste período reprodutivo, verificamos o nascimento de 27 filhotes nas caixas-ninho, o que representa mais de 10% da estimativa populacional. Esse animal se reproduz uma vez por ano e aparentemente existe uma fidelidade durante todo período reprodutivo. Monogamia é complicado se afirmar. A tendência é que no próximo período reprodutivo, os filhotes sejam anilhados e aos poucos questões como essa e outras possam ser elucidadas. A oferta de caixas-ninho é uma ação emergencial para um incremento populacional de curto prazo. A tendência é que esses ninhos sejam substituídos pelos ocos naturais a partir do momento em que a mata da serra de Baturité tenha maior disponibilidade desses espaços. Porém, aumentar a população tem que vir acompanhada por forte trabalho de conscientização e fiscalização para que não se tenha um aumento de captura por parte de traficantes. Esta atividade está em baixa, mas nada impede de retornar, por isso, trabalhar com autoridades de repreensão ao tráfico de animais é fundamental.
Em 29/03/2011
Fábio de Paiva Nunes, 32 anos – biólogo, trabalha ha 10 meses no projeto de conservação do cara-suja que existe desde 2007. Antes disso trabalhava em outra ONG com criação de reservas privadas (RPPN), projeto que teve interseção com o periquito cara-suja na proteção de áreas de ocorrência da espécie na Serra de Baturité.
FONTE: http://www.biotabrasil.com.br
