sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

MESTRE ZÉ XAVIER, UM GRANDE DIAMANTE QUE NÃO PODE SER LAPIDADO

 

MESTRE ZE XAVIER


Baseado em sua autobiografia


No Sítio São Salvador, no dia 25 de março do ano de 1893, nascia um menino, depois batizado pelo nome de José[1].


Seu pai dos afazeres de carpina, sonhando por algo melhor na vida, veio a embarcar aventuradamente para o norte das seringueiras, no ano de 1899, deixando todos sem notícias, ano seguinte sua mãe sofrida, logo ficou doente e veio a falecer, ficando órfão aos 7 anos de idade, seu pai só veio voltar quatros anos depois, mesmo assim muito adoentado e três meses após a chegada, veio também a falecer.


Frente a fome e a sede, foi mandado para morar com a viúva de seu padrinho, Porfírio Nogueira, residente no Sítio Pilar, no pé da subida à Serra, não se adaptando, foi socorrido pelo casal José Marinho de Góes e Angelina Ellery, que o enviaram ao Quixadá, passou a ser interno do mosteiro beneditino, até sua extinção em 1907, depois em 1909 entrou no colégio franciscano de Canindé.


Vendo que a vocação clérica não era seu destino, pediu ao casal José Marinho de Góes e Angelina Ellery, seus apadrinhadores, que o levasse para trabalhar em outro ofício, sendo que no ano de 1913, aos vinte anos de idade, veio morar no Sítio Logradouro.


Foi no Sítio Logradouro que o menino fez os primeiros contatos com o maquinismo, observando atentamente as engenhosidades das rodas d’aguas, das piladeiras de café e das moedeiras de cana-de-açúcar, decidindo ali seu ofício, esses objetos os seguiram pelo resto da sua vida, como o Mestre Zé Xavier.


cana de açúcar














Foi então que veio a se familiarizar com nomes como bitola, encabeçamento, pulha, diâmetro, ruelas ou duelas, raio de fundo, esfera, bigorna, passando a consertar, quando possível as máquinas piladeiras de café, que inicialmente eram as americanas das marcas Blymizar, Uruapâ, Engelbergues, depois as brasileiras Amaral por montagens, muito tempo depois, já no ano de 1940 aparecerem as genuínas nacionais, que ficaram conhecidas como máquinas penteadas, bem mais leves e com mecanismo mais simples,  que foram principalmente as das marcas Limeira e D’Andreia. Já as moageiras dos engenhos de cana-de-açúcar eram fabricadas na Inglaterra e na Alemanha, sendo o usado como força motriz, tanto na pilhagem do café como na moagem da cana-de-açúcar, inicialmente as quedas d’água e os rodeios puxados a burros, no ano de 1940 em diante, começaram a aparecer os primeiros motores a diesel importados, mas só os mais afortunados tinham capacidade de adquirir.


Piladeira de Café










Em seu dia a dia o Mestre Zé Xavier necessitou e começou a usar cálculos geométricos, com ou sem o uso do PI, para operações em circunferências, áreas, volumes, cubações, etc., tudo para serem usados nas construções dos moldes, que fazia ora de papelão, ora de madeira, para realização dos testes das engrenagens desgastadas ou danificadas, evitando perda de tempo na qualificação das novas peças, que também as fazia a ferro batido a bigorna ou torno, numa verdadeira engenharia reversa tupiniquim.


Em pouco tempo Mestre Zé Xavier, fez nome e era convidado para soluções dos enguiços, falhas, anomalias, defeitos e panes “pregos como passou ser chamado” dos mais diversos tipos de máquinas dos produtores serranos, assim deixou de ser exclusividade de José Marinho, para servir a Mattos-Britos, Caracas-Linhares, Holandas, etc.  


Com seu dom de fino trato com alvenaria, ferragens e carpintaria, construiu por completo a represa do Sítio Paquetá, de Jaime César Caracas, hoje de Amarílio Proença Macedo, com compotas de aço e outros itens modelados.


Represa Sítio Paquetá













Depois dos quarenta anos de idade Mestre Zé Xavier começou a observar perdas auditivas progressivas, ocasionados pelos intermitentes túmidos de trinados ferro a ferro, chegando a ficar totalmente surdo, mesmo assim, apenas diminuiu seu ritmo, passando nas horas vagas a compor músicas e versos, mas trabalhou até o final de sua vida, que ocorreu no Sítio Bonsucesso, no dia 19 do mês de novembro do ano de 1987, hoje Mestre Zé Xavier é relembrado com o nome de uma Rua que dá acesso ao Conjunto Frei Domingos.

Não temos culpa do Brasil ter esta mescla.

Desta harmonia vem o fim compensador.  

Não é defeito ser mestiço nesta terra.

O que nos honra é nossa vida de labor.


Se tivesse tido capacidade ou a sorte de realizar estudo completo de engenharia mecânica, talvez seria hoje um grande inventor patenteado ou industrial famoso.


[1] José Xavier Ribeiro Maia, nascido em 25 de março de 1893, no Sítio São Salvador, Guaramiranga, e falecido em 19 de novembro de 1987, no Sítio Bonsucesso, Guaramiranga, era filho de Francisco Xavier Ribeiro Maia, natural de Tabuleiro do Norte e de Maria Francisca do Amor Divino, natural de São João do Jaguaribe, foi casado com Gertrudes Ferreira Barros, que era filha de Miguel Ferreira de Barros e de Maria Ferreira Barros, natural de Vale do Choró, Quixadá.

 

sábado, 27 de novembro de 2021

O CAMINHO DA FÉ, CAPELA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

 

MATRIZ DE GUARAMIRANGA

Para entender essa caminhada de fé, remonta-se a Portugal ultramarino, no ano de 1646, quando D. João IV, em agradecimento por ter recuperado a independência em relação a Espanha, fato corrido seis anos antes, pôs a corroa reservada as rainhas de Portugal, na cabeça da imagem de Nossa Senhora da Conceição, dizendo que a partir daquela data ela seria a única rainha de Portugal e, por esta razão, mais nenhum rei ou rainha usarão a coroa real portuguesa na cabeça, por ser um privilégio exclusivo da Nossa Senhora da Conceição, nomeando-a a protetora perpétua de Portugal.[1]

COROAÇÃO NOSSA SENHARA DA CONCEIÇÃO
Um dos filhos de Portugal, devoto de Nossa Senhora da Conceição, era o Tenente Coronel Pascoal Correia Vieira[2] que chegou ao Brasil como um dos capitães do regimento de Pernambuco, mas foi enviado a Capitania do Siará Grande, para pacificar os índios das ribeiras do Jaguaribe e Choró.[3]

O Tenente Coronel Pascoal Correia Vieira, após cumprir sua missão, resolveu dedicar-se ao comércio crescente do charqueados, adquirindo uma faixa de terra na ribeira do Sitiá, afluente do Banabuiú, para atividade pecuária, no ano de 1719 erigiu uma Capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição. Toda área circundante a nova edificação ficou conhecida como Conceição da Barra do Sitiá.[4] Sendo ela considerada hoje, a primeira com essa invocação no Ceará.

O fluxo de exploradores e comerciantes entre a Conceição da Barra do Sitiá, que passou a pertencer a Freguesia de Campo Maior do Quixeramobim, e a da Aldeias das Missões de Nossa Senhora da Palma, depois Vila Real Monte-Mor o Novo da América, fundada em 1759,[5] aumentou consideravelmente,[6] culminando com a abertura do caminho de acesso em direção a hinterlândia, ligando esses dois lugares, permitindo que a Vila Real Monte-Mor o Novo da América tivesse amplo acesso aos sertões e ao vale do Jaguaribe, a partir de Campo Maior de Quixeramobim, caminho bem visível na primeira Carta da Capitania do Ceará, de autoria de António José da Silva Paulet, datado de 1818.[7]

Diferente das terras do Sertão onde foram exploradas por imensas extensões de concessões régias de sesmarias, as terras do topo da Serra foram demarcadas e exploradas exclusiva por apossamentos, uma atividade muito árdua e onerosa, demandava dinheiro e muito trabalho escravo, notadamente porque as divisas eram feitas por valados.[8]

Embora todas terras já apossadas e demarcadas, o ponto decisivo para o povoamento na área serrana, se deu pela excelente adaptação do cultivo do café, a partir de 1822, assim, Vitoriano Correia Vieira, então morador de Russas, mas com propriedades na Barra do Sitiá, interessado na intensificação do movimento no plantio do café, comprou do posseiro Francisco Felix, uma faixa de terras  que que ia do Sítio Macapá ao Sítio Munguaípe, entre os Sítios Guaramiranga e Bom Sucesso,[9] qual o denominou de Conceição.

Vitoriano Correia Vieira era filho do Capitão Francisco de Brito Pereira, casado com Izabel Correia Vieira, esta era sobrinha do Tenente Coronel Pascoal Correia Vieira, construtor da Capela da Conceição da Barra do Sitiá, como não se adaptou as terras serranas, voltou ao Sertão e em 1845 doou parte das terras adquiridas para a Freguesia de Nossa Senhora da Palma, condicionada que nela fosse construída uma Capela com invocação a Nossa Senhora da Conceição, semelhante a Capela da Barra do Sitiá. A outra porção das terras ele vendeu ao sobralense Francisco Pinto Brandão, enteado de Pedro Lopes de Queiroz, irmão do proprietário do Sítio Munguaipe, que posteriormente a vendeu ao Capitão José Pacífico da Costa Caracas, patriarca da família Caracas em Guaramiranga.

Com a construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e do Cemitério, o pequeno lugar em franca prosperidade, passou a ser conhecido como o Distrito de Paz da Conceição, e em poucos anos, já era uma verdadeira Vila.[10]

Com o crescimento necessitou-se elevar a categoria de Matriz a Capela de Nossa Senhora da Conceição. Neste sentido foi apresentado a Assembleia Provincial um projeto de lei (nº 17), que foi aprovado e transformou-se na Lei nº 1.580, de 18 de setembro de 1873, assinada pelo Comendador Joaquim Caminho da Cunha Freire, sendo a nova Freguesia canonizada por Dom Luiz Antônio dos Santos, primeiro Bispo da Província do Ceará, no dia 21 e novembro de 1873, nesta ocasião foi empossado seu primeiro vigário, o Pe. Joaquim Romualdo de Holanda.[11]

A Capela Matriz de Nossa Senhora da Conceição embora já canonizada e com a categoria de sede, ainda não estava completamente construída e sempre que podia, Pe. Romualdo pedia aos sitiantes que doassem materiais para seu acabamento. E assim, aos poucos, a capela ia sendo terminada. Porém, em 1876, Pe. Romualdo foi transferido para a Freguesia de Redenção, e para substituí-lo veio o Pe. Anastácio de Albuquerque Braga,[12] este juntamente com a liderança firme de Ana Bilhar e do devoto Pe. José Leorne Menescal, conseguiram junto ao Governo Monárquico e demais lideranças locais, recursos para a conclusão da Capela, dezenas de flagelados vítimas da seca de 1877-80, trabalharam na construção final da Capela de Nossa Senhora da Conceição.[13]

COMPARAÇÃO GUARAMIRANGA BARRA DO SITIÁ

A Capela de Nossa Senhora da Conceição, a princípio era muito parecida com a da Barra do Sitiá, caracterizava-se pela torre rente e as janelas ao alto, a atual formação de torre alta mais a frente e as janelas dando lugar a ventilação de forma arredondadas, se deu na grande reforma liderada perante a comunidade pelo Frei Honório de Origgio,[14] no ano de 1947 e finalizada perante o movimento do Ano Mariano de 1953/1954.[15]

Em novos trabalhos de pesquisas deparei com manuscritos datado de 1966, de autoria de José Xavier Ribeiro Maia - Mestre Zé Xavier, onde consta que a Capela de Nossa Senhora da Conceição começou a desmoronar parcialmente em uma de suas lateral, sendo que em 1925, D. Angelina Ellery Marinho de Góes, então residente e proprietária do Sítio Nancy, mandou restaurar completamente a parede e ainda construir o entroncamento da futura torre, tudo inaugurada com celebração pública, pois havia também trazido a imagem de São Francisco de Assis e instalado ao lado do altar da igreja matriz, partindo então toda tradição da celebração franciscana anual, que depois, foi mantida pela vinda dos padres capuchinhos em 1930.       


[1] https://rfm.sapo.pt/content/5105/imaculada-conceicao-o-rei-coroou-a-rainha-de-portugal

A primeira celebração a Nossa Senhora de Conceição em Portugal, ocorreu no dia 8 de dezembro de 1320, em Coimbra.

[2] Pascoal Correia Vieira foi batizado em 20 de fevereiro de 1686, no Povoado de Aldemil, Freguesia de Lanhoso, Conselho de Póvoa de Lanhoso, Braga. Portugal. Era filho de Nicolau Correia Vieira e de Custódia Rabelo Vieira.

[3] Até o século XVIII, os Payaku habitavam os rios Açu, Apodi, Jaguaribe, Banabuiú e Choró. Por sua vez, os Jenipapo e  Kanindé,  semelhantes aos Tarairiú em língua e cultura, tal como os Payaku, viviam nas várzeas do Apodi, Jaguaribe e Choró. Como outros povos não-Tupi, eles ficaram conhecidos pela denominação genérica de "Tapuias do Nordeste". In https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Jenipapo-Kanind%C3%A9

[4] O Capitão Pascoal Correia Vieira requereu e obteve uma licença para erigir no Sítio uma Capela com invocação a Nossa Senhora da Conceição, perante o visitador eclesiástico português, João Cavalcante Bezerra, formalizado por despacho datado de 27 de maio de 1719, depois de concluída, requereu a Cura da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, de Russas, as benções da Capela, que foi feita pelo Padre Francisco Gomes da Silva.  (in Bezerra, Antônio. Algumas origens do Ceará: defesa ao Desembargador Suares Reimão à vista dos documentos do seu tempo / Antônio Bezerra. — Ed. fac-sim - Fortaleza: FWA, 2009) e Ribeiro, Áurea Regina de Araújo. “Senhores e Possuidores”: Família e Poder em Banabuiú (1700-1800). ANPUH-Brasil – 30° Simpósio Nacional de História – Recife, 2019. Fls. 01-02.

[5] A Freguesia de Nossa Senhora da Palma foi criada pelo alvará de 08 de maio de 1758., mas só instalada em 19 de junho de 1762, sendo nomeado seu primeiro Vigário o Padre Patrício Joaquim. A freguesia foi desmembrada de Aquiraz e recebeu a invocação de Nossa Senhora da Palma, em 14 de abril de 1764, foi instalada a Vila Real de Montemor o Novo d’América, pelo Ouvidor Mor Victoriano Barbosa. Este oficializou Nossa Senhora da Palma Padroeira e São João Nepomuceno Padroeiro da nova Vila. 

[6] Na crise climática das secas dos anos de 1777, 78 e 79 e 1790-1793 (conhecidas como seca dos três setes e seca grande, respectivamente), esta última foi tão terrível e rigorosa, que durou quatro anos, destruiu e matou quase todo o gado do sertão (Thomaz Pompeu, O Ceará no Começo do Século XX, pág. 255), isso foi o motivo de serem abertos caminhos entre os dois locais, onde parte do gado foram levados, mas a maioria acabou sendo dizimado. Evidenciando a necessidade de um local mais úmido para salvar matrizes de reprodução. Os sertanejos temerosos das destraças da fome, da sede e da morte de seu gado, procuraram aproximar-se das serras, garantindo assim um local para refrigerar os rebanhos e para saciar sua própria sede. (in Farias, Francisco Marcélio de Almeida. Nossa história de Conceição à Guaramiranga. Fortaleza: Gráfica e Editora. Fortaleza, 2001. fls. 07).

[7] Paulet, Antônio José da Silva. Carta da Capitania do Ceará levantada por ordem do governador Manoel Ignácio de Sampaio [Cartográfico] [S.l.: s.n.], 1818. [S.l.: s.n.], 1818. Disponível no sítio da Biblioteca Nacional.

[8] Os valados constituíam de escavações em regos extensos, sendo o meio de “fechar” as terras na Serra, por ser menos oneroso do que a construção com muros de pedra ou as de madeiras, essa última, comumente conhecida nos sertões por caiçaras, dotados da vantagem suplementar, servem também de canais de drenagem.

[9] Farias, Francisco Marcélio de Almeida. Nossa história de Conceição à Guaramiranga. Fortaleza: Gráfica e Editora. Fortaleza, 2001. fls. 09.

[10] Farias, Francisco Marcélio de Almeida. Nossa história de Conceição à Guaramiranga. Fortaleza: Gráfica e Editora. Fortaleza, 2001. fls. 09.

[11] Cônego Joaquim Romualdo de Holanda. Nasceu em São João do Tauape, Fortaleza, em 25 de agosto de 1844. Batizado a 20 de outubro pelo Padre Carlos Augusto Peixoto de Alencar. Filho de Manoel Romualdo de Holanda e Dona Maria Augusta de Holanda. Ordenado em Fortaleza, a 30 de novembro de 1870. Primeiro Vigário de Guaramiranga. 21 novembro de 1873/1876. Cf. Francisco Augusto de Araújo Lima, Famílias Cearenses.

[12] Padre Anastácio de Albuquerque Braga. Nasceu em 22 de maio de 1842, Maranguape, onde faleceu aos 28 de dezembro de 1888. Recebeu a ordem do Presbiterato aos 21 de setembro de 1869. Foi Vigário em Guaramiranga, CE. Cf. Francisco Augusto de Araújo Lima, Famílias Cearenses.

[13] Farias, Francisco Marcélio de Almeida. Nossa história de Conceição à Guaramiranga. Fortaleza: Gráfica e Editora. Fortaleza, 2001. fls. 14.

[14] Frei Honório de Origgio, OFM Cap, Henrique Airoldi. Nasceu a 28 de outubro de 1897, em Origgio, Província de Varese, Lombardia, Itália. Era filho de César Airoldi e Carolina Monza. Ordenado em Milão, em 2 de Junho de 1928. Superior do Convento de Guaramiranga, 1937/1940. Vigário de Guaramiranga, quando reformou a Matriz de Nossa Senhora da Conceição e reconstruiu o Cemitério, incansável vigário não se poupava, ele mesmo trabalhava, calejando as mãos, para adornar a casa de Deus. Faleceu repentinamente, em Guaramiranga, no dia 10 de Junho de 1946, sendo sepultado em Fortaleza. Cf. Francisco Augusto de Araújo Lima, Famílias Cearenses.

[15] O Papa Pio XII ordenou um Ano Mariano entre dezembro de 1953 a dezembro de 1954, o primeiro da história da Igreja. Os católicos foram chamados para comemorar o centenário da definição do dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

JOSÉ MARINHO DE GÓES, A SAGA DE UM BENFEITOR

JOSÉ MARINHO FALCÃO DE GÓES, nasceu em Quixadá no dia 21 de fevereiro de 1876, era filho de Major Gaudioso Simão de Castro Góes e de Joanna Lydia Barreiro Marinho Falcão, foi casado com sua prima ANGELINA DE GÓES SALDANHA ELLERY (depois ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES), filha de Eduardo Saldanha Ellery e de Angélica de Castro Góes

Ficou órfão de pai aos 9 anos de idade, em 1893, aos 17 anos embarcou para Europa onde formou-se em Agronomia, na cidade de Louvain, na Bélgica, de volta ao novo mundo, foi residir com a mãe no Sítio São José, em Guaramiranga.  

Em 1905, após a construção da casa, JOSÉ MARINHO passou a residir no Sítio Logradouro, vizinho ao Sítio São José, adquirido junto a firma Boris & Frères, por trinta e cinco mil contos de reis.

JOSÉ MARINHO GÓES ao regressar da Europa encontra uma Serra em franca decadência, consequência do empobrecimento e dívidas dos produtores de café[1], sendo um homem de visão acreditou na recuperação e já em 1940 era proprietário de oito sítios em Guaramiranga, tais sejam: Sítio Nancy e Casablanca, Sítio São José e Logradouro, Sítio Sobradinho, Sítio Batalha (depois viria a ser o campo de fruticultura do governo federal), Sítio Estados Unidos e Sítio Assaré. Sem falar em outros fora de Guaramiranga, como os Sítio Tijuco e Tijuquinha, em Baturité, Pau d'Alho, em Pacoti, e Fazenda Cachoeira, em Uruquê, Quixeramobim.

Mas o que diferenciou JOSÉ MARINHO GÓES dos demais homens do seu tempo, foi a benevolência com a causa pública, a religiosidade e a humanidade, veja os feitos:

O casal JOSÉ MARINHO GÓES e ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES a pedido do Frei Reinaldo Marinho de Itapipoca, fizeram por volta de 1940, a doação de parte do Sítio Nancy, que confinava com a área do Convento da Gruta, doada por D. Ana Felícia Caracas, ampliando a área dos frades até as margens do Riacho Nancy, possibilitando-os realizarem plantações de hortaliças e pomares, a nova área também proporcionou uma melhor contemplação à natureza, como era esse o desejo deles.[2] 

Sempre preocupada com a educação dos menos favorecidos, D. ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES,[3] em 18 de outubro de 1954, fez doação de todo o restante do Sítio Nancy a Arquidiocese de Fortaleza, com a promessa de que nele fosse instalado um “serviço social de proteção aos meninos pobres de Guaramiranga”, ficando o imóvel administrado pelo Padre Dourado.[4]

A benevolência a causa pública deu-se ainda antes da emancipação do Munícipio, quando doa uma parte do Sítio Nancy ao então Munícipio de Pacoti, destinado a construção do prédio dos correios e para construção de uma praça pública no então Distrito de Guaramiranga.[5]

Nesse imóvel foi inaugurado no dia da emancipação do município de Guaramiranga, o Posto de Saúde e Puericultura de Guaramiranga, que levou o nome da doadora ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES, foto abaixo a época, de Levi Jucá e da atualidade do Google Maps.



JOSÉ MARINHO GÓES e ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES sempre se preocuparam com a educação e formação profissional dos mais carentes. Sendo pessoas extremamente caridosas, criaram e educaram muitas crianças até a idade adulta: sobrinhos, afilhados e filhos de parentes ou de velhos conhecidos. Alguns se tornara padres e freiras por seu intermédio. Financiaram estudos, livros e usaram toda influência para conseguir vagas em internatos, seminários e conventos.

O casal não teve filhos, mas perfilhou seu sobrinho José Ellery Marinho de Góes, nascido em 23 de Outubro de 1923 que casou com Maria Emília de Mattos Brito Góes.

Esse casal José Ellery Marinho de Góes e Maria Emília de Mattos Brito Góes ainda fizeram doação de uma área desmembrada do Sítio Nancy, para que fosse aberta uma estrada ligando a Rua Raimundo Nonato da Costa a CE065, que leva a Baturité ou Pacoti, que depois passou a denominar-se de Av. Vicente Soares.[6]

O casal José Ellery Marinho de Góes e Maria Emília de Mattos Brito Góes ainda doaram ao município parte do Sítio Monte Greppo, onde hoje se encontra o prédio do Fórum, construído pelo Desembargador José Maria de Melo, doação do imóvel realizada pela prefeitura, bem como do prédio do Teatrinho, ambos construídos na administração do prefeito Dráulio Holanda.  

Com colaboração dos escritos de Cláudia Góes.   


[1] O plantio usual na Serra com temperatura alta ao dia de pleno sol, quando da florada para uma fecundação ideal o cafeeiro exige uma temperatura constante entre 18-22 graus centígrados, caso contrário, as flores abortam e reduzem a produção, notadamente nas plantações mais antigas, o solo também não ajudava, já chegando aos 100 anos da introdução do café nos solos serranos, nos idos do ano de 1822, já eram visíveis o adensamento dos solos, fruto do uso inadequado nas terras íngremes, sem a menor consciência de utilização de técnicas de conservação do solo; tudo aliado a própria queda do preço no mercado internacional, causado pela superprodução no Sul do País e na Colômbia e países asiáticos. Culminando fatalmente com a queda da bolsa de 1929.   

[2] D. ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES era muito religiosa, trouxeram para Pacoti as irmãs da Congregação de São Vicente de Paulo, de origem francesa, doando para elas a primeira casa onde funcionou inicialmente o Patronato Imaculada Conceição, fundado em 1º de maio de 1932 e logo depois toda a área do atual Instituto Maria Imaculada.

[3] JOSÉ MARINHO FALCÃO DE GÓES já havia falecido no Rio de Janeiro, em 3 de março de 1945, D. ANGELINA faleceu em Fortaleza, em 8 de janeiro de 1958.

[4] Lamentavelmente a propriedade voltou aos familiares do casal, por força de uma cláusula contratual qual estipulava que, se depois de decorridos cinco anos não fossem cumpridas as finalidades acordadas na doação, a propriedade voltaria ao patrimônio dos doadores. O que só aconteceu depois de decorridos dezoito anos, em 3 de maio e 1972.  

[5] Hoje, o imóvel doado ainda se destina ao funcionamento dos Correios, da praça em frente à Prefeitura, que leva seu nome, sendo ainda que nele também foi construído o chamado Centro Comunitário, realizado na administração do governador Adauto Bezerra e do prefeito Capitão Macário Nery, tempos depois a quadra poliesportiva passou para o domínio do Estado do Ceará e o restante passou a funcionar a atual Secretaria de Ação  Social do Município, grande número de outros prédios públicos estão na segunda metade deste imóvel, como a Câmara Municipal,  a Secretaria da Educação e da Infraestrutura (obras), estes três ainda construídos na administração do prefeito Francisco Farias Filho (Fariínha), a Creche Rita Célia, o Espaço Sempre Viva (atenção a deficientes), o Instituto de Previdência Municipal e outros.

[6] Essa é a principal via que dá acesso ao Conjunto Frei Domingos, uma área originada de parte do Sítio Nancy, que antes havia sido doado aos Capuchinhos, posteriormente Frei Domingos loteou aos pobres de Guaramiranga.  

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