Para entender essa caminhada de fé,
remonta-se a Portugal ultramarino, no ano de 1646, quando D. João IV, em agradecimento por ter recuperado a independência em relação a Espanha, fato corrido seis anos
antes, pôs a corroa reservada as rainhas de Portugal, na cabeça da imagem de Nossa
Senhora da Conceição, dizendo que a partir daquela data ela seria a única rainha
de Portugal e, por esta razão, mais nenhum rei ou rainha usarão a coroa real
portuguesa na cabeça, por ser um privilégio exclusivo da Nossa Senhora da
Conceição, nomeando-a a protetora perpétua de Portugal.[1]
O Tenente Coronel Pascoal Correia Vieira, após
cumprir sua missão, resolveu dedicar-se ao comércio crescente do charqueados,
adquirindo uma faixa de terra na ribeira do Sitiá, afluente do Banabuiú, para atividade
pecuária, no ano de 1719 erigiu uma Capela dedicada à Nossa Senhora da
Conceição. Toda área circundante a nova edificação ficou conhecida como Conceição
da Barra do Sitiá.[4]
Sendo ela considerada hoje, a primeira com essa invocação no Ceará.
O fluxo de exploradores e comerciantes
entre a Conceição da Barra do Sitiá, que passou a pertencer a Freguesia
de Campo Maior do Quixeramobim, e a da Aldeias das Missões de Nossa Senhora da Palma, depois Vila Real Monte-Mor o
Novo da América, fundada em 1759,[5]
aumentou consideravelmente,[6]
culminando com a abertura do caminho de acesso em direção a hinterlândia,
ligando esses dois lugares, permitindo que a Vila Real Monte-Mor o Novo da América tivesse amplo acesso aos sertões
e ao vale do Jaguaribe, a partir de Campo Maior de Quixeramobim, caminho
bem visível na primeira Carta da
Capitania do Ceará, de autoria de António José da Silva Paulet, datado de 1818.[7]
Diferente das terras do Sertão onde
foram exploradas por imensas extensões de concessões régias de
sesmarias, as terras do topo da Serra foram demarcadas e exploradas exclusiva
por apossamentos, uma atividade muito árdua e onerosa, demandava dinheiro e muito trabalho
escravo, notadamente porque as divisas eram feitas por valados.[8]
Embora todas terras já apossadas e
demarcadas, o ponto decisivo para o povoamento na área serrana, se deu
pela excelente adaptação do cultivo do café, a partir de 1822, assim, Vitoriano Correia Vieira, então morador de Russas, mas com propriedades na Barra do Sitiá,
interessado na intensificação do movimento no plantio do café, comprou do
posseiro Francisco Felix, uma faixa de terras que que ia do Sítio Macapá ao Sítio
Munguaípe, entre os Sítios Guaramiranga e Bom Sucesso,[9]
qual o denominou de Conceição.
Vitoriano Correia Vieira era filho
do Capitão
Francisco de Brito Pereira, casado com Izabel Correia
Vieira, esta era sobrinha do Tenente Coronel Pascoal Correia Vieira, construtor da Capela da Conceição da Barra do Sitiá, como
não se adaptou as terras serranas, voltou ao Sertão e em 1845 doou parte
das terras adquiridas para a Freguesia de Nossa Senhora da Palma, condicionada que nela fosse construída uma Capela com invocação a Nossa Senhora da
Conceição, semelhante a Capela da Barra do Sitiá. A outra
porção das terras ele vendeu ao sobralense Francisco Pinto Brandão,
enteado de Pedro Lopes de Queiroz, irmão do
proprietário do Sítio Munguaipe, que posteriormente a vendeu ao Capitão José Pacífico da
Costa Caracas, patriarca da família Caracas em Guaramiranga.
Com a construção da Igreja de
Nossa Senhora da Conceição e do Cemitério, o pequeno lugar em franca
prosperidade, passou a ser conhecido como o Distrito de Paz da Conceição,
e em poucos anos, já era uma verdadeira Vila.[10]
Com o crescimento necessitou-se
elevar a categoria de Matriz a Capela de Nossa Senhora da Conceição.
Neste sentido foi apresentado a Assembleia Provincial um projeto de lei (nº 17),
que foi aprovado e transformou-se na Lei nº 1.580, de 18 de setembro de 1873,
assinada pelo Comendador Joaquim Caminho da Cunha Freire, sendo a nova
Freguesia canonizada por Dom Luiz Antônio dos Santos, primeiro Bispo
da Província do Ceará, no dia 21 e novembro de 1873, nesta ocasião foi
empossado seu primeiro vigário, o Pe. Joaquim Romualdo de Holanda.[11]
A Capela Matriz de Nossa Senhora
da Conceição embora já canonizada e com a categoria de sede, ainda não
estava completamente construída e sempre que podia, Pe. Romualdo pedia aos
sitiantes que doassem materiais para seu acabamento. E assim, aos poucos, a
capela ia sendo terminada. Porém, em 1876, Pe. Romualdo foi transferido para a
Freguesia de Redenção, e para substituí-lo veio o Pe. Anastácio de
Albuquerque Braga,[12]
este juntamente com a liderança firme de Ana Bilhar e do devoto Pe.
José Leorne Menescal, conseguiram junto ao Governo Monárquico e
demais lideranças locais, recursos para a conclusão da Capela, dezenas de
flagelados vítimas da seca de 1877-80, trabalharam na construção
final da Capela de Nossa Senhora da Conceição.[13]
A Capela de Nossa Senhora da Conceição, a princípio era muito parecida com a da Barra do Sitiá, caracterizava-se pela torre rente e as janelas ao alto, a atual formação de torre alta mais a frente e as janelas dando lugar a ventilação de forma arredondadas, se deu na grande reforma liderada perante a comunidade pelo Frei Honório de Origgio,[14] no ano de 1947 e finalizada perante o movimento do Ano Mariano de 1953/1954.[15]
Em novos trabalhos de pesquisas deparei com manuscritos datado de 1966, de autoria de José Xavier Ribeiro Maia - Mestre Zé Xavier, onde consta que a Capela de Nossa Senhora da Conceição começou a desmoronar parcialmente em uma de suas lateral, sendo que em 1925, D. Angelina Ellery Marinho de Góes, então residente e proprietária do Sítio Nancy, mandou restaurar completamente a parede e ainda construir o entroncamento da futura torre, tudo inaugurada com celebração pública, pois havia também trazido a imagem de São Francisco de Assis e instalado ao lado do altar da igreja matriz, partindo então toda tradição da celebração franciscana anual, que depois, foi mantida pela vinda dos padres capuchinhos em 1930.
[1]
https://rfm.sapo.pt/content/5105/imaculada-conceicao-o-rei-coroou-a-rainha-de-portugal
A primeira celebração a Nossa Senhora de Conceição em Portugal, ocorreu no dia 8 de dezembro de 1320, em Coimbra.
[2] Pascoal Correia Vieira foi batizado em 20 de fevereiro de 1686, no Povoado de Aldemil, Freguesia de Lanhoso, Conselho de Póvoa de Lanhoso, Braga. Portugal. Era filho de Nicolau Correia Vieira e de Custódia Rabelo Vieira.
[3] Até o século XVIII, os Payaku habitavam os rios Açu, Apodi, Jaguaribe, Banabuiú e Choró. Por sua vez, os Jenipapo e Kanindé, semelhantes aos Tarairiú em língua e cultura, tal como os Payaku, viviam nas várzeas do Apodi, Jaguaribe e Choró. Como outros povos não-Tupi, eles ficaram conhecidos pela denominação genérica de "Tapuias do Nordeste". In https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Jenipapo-Kanind%C3%A9
[4] O Capitão Pascoal Correia Vieira requereu e obteve uma licença para erigir no Sítio uma Capela com invocação a Nossa Senhora da Conceição, perante o visitador eclesiástico português, João Cavalcante Bezerra, formalizado por despacho datado de 27 de maio de 1719, depois de concluída, requereu a Cura da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, de Russas, as benções da Capela, que foi feita pelo Padre Francisco Gomes da Silva. (in Bezerra, Antônio. Algumas origens do Ceará: defesa ao Desembargador Suares Reimão à vista dos documentos do seu tempo / Antônio Bezerra. — Ed. fac-sim - Fortaleza: FWA, 2009) e Ribeiro, Áurea Regina de Araújo. “Senhores e Possuidores”: Família e Poder em Banabuiú (1700-1800). ANPUH-Brasil – 30° Simpósio Nacional de História – Recife, 2019. Fls. 01-02.
[5] A Freguesia de Nossa Senhora da Palma foi criada pelo alvará de 08 de maio de 1758., mas só instalada em 19 de junho de 1762, sendo nomeado seu primeiro Vigário o Padre Patrício Joaquim. A freguesia foi desmembrada de Aquiraz e recebeu a invocação de Nossa Senhora da Palma, em 14 de abril de 1764, foi instalada a Vila Real de Montemor o Novo d’América, pelo Ouvidor Mor Victoriano Barbosa. Este oficializou Nossa Senhora da Palma Padroeira e São João Nepomuceno Padroeiro da nova Vila.
[6] Na crise climática das secas dos anos de 1777, 78 e 79 e 1790-1793 (conhecidas como seca dos três setes e seca grande, respectivamente), esta última foi tão terrível e rigorosa, que durou quatro anos, destruiu e matou quase todo o gado do sertão (Thomaz Pompeu, O Ceará no Começo do Século XX, pág. 255), isso foi o motivo de serem abertos caminhos entre os dois locais, onde parte do gado foram levados, mas a maioria acabou sendo dizimado. Evidenciando a necessidade de um local mais úmido para salvar matrizes de reprodução. Os sertanejos temerosos das destraças da fome, da sede e da morte de seu gado, procuraram aproximar-se das serras, garantindo assim um local para refrigerar os rebanhos e para saciar sua própria sede. (in Farias, Francisco Marcélio de Almeida. Nossa história de Conceição à Guaramiranga. Fortaleza: Gráfica e Editora. Fortaleza, 2001. fls. 07).
[7] Paulet, Antônio José da Silva. Carta da Capitania do Ceará levantada por ordem do governador Manoel Ignácio de Sampaio [Cartográfico] [S.l.: s.n.], 1818. [S.l.: s.n.], 1818. Disponível no sítio da Biblioteca Nacional.
[8] Os valados constituíam de escavações em regos extensos, sendo o meio de “fechar” as terras na Serra, por ser menos oneroso do que a construção com muros de pedra ou as de madeiras, essa última, comumente conhecida nos sertões por caiçaras, dotados da vantagem suplementar, servem também de canais de drenagem.
[9] Farias, Francisco Marcélio de Almeida. Nossa história de Conceição à Guaramiranga. Fortaleza: Gráfica e Editora. Fortaleza, 2001. fls. 09.
[10] Farias, Francisco Marcélio de Almeida. Nossa história de Conceição à Guaramiranga. Fortaleza: Gráfica e Editora. Fortaleza, 2001. fls. 09.
[11]
Cônego Joaquim Romualdo
de Holanda. Nasceu em São João do Tauape, Fortaleza, em 25 de agosto de
1844. Batizado a 20 de outubro pelo Padre Carlos Augusto Peixoto de Alencar.
Filho de Manoel Romualdo de Holanda e Dona Maria Augusta de Holanda. Ordenado
em Fortaleza, a 30 de novembro de 1870. Primeiro Vigário de Guaramiranga. 21
novembro de 1873/1876. Cf. Francisco Augusto de Araújo Lima, Famílias
Cearenses.
[12]
Padre Anastácio de Albuquerque Braga.
Nasceu em 22 de maio de 1842, Maranguape, onde faleceu aos 28 de dezembro de
1888. Recebeu a ordem do Presbiterato aos 21 de setembro de 1869. Foi Vigário
em Guaramiranga, CE. Cf. Francisco Augusto de Araújo Lima, Famílias
Cearenses.
[13] Farias, Francisco Marcélio de Almeida. Nossa história de Conceição à Guaramiranga. Fortaleza: Gráfica e Editora. Fortaleza, 2001. fls. 14.
[14] Frei Honório de Origgio, OFM
Cap, Henrique Airoldi. Nasceu a 28 de outubro de 1897, em Origgio, Província de
Varese, Lombardia, Itália. Era filho de César Airoldi e Carolina Monza.
Ordenado em Milão, em 2 de Junho de 1928. Superior do Convento de Guaramiranga,
1937/1940. Vigário de Guaramiranga, quando reformou a Matriz de Nossa Senhora
da Conceição e reconstruiu o Cemitério, incansável vigário não se poupava,
ele mesmo trabalhava, calejando as mãos, para adornar a casa de Deus. Faleceu repentinamente, em
Guaramiranga, no dia 10 de Junho de 1946, sendo sepultado em Fortaleza. Cf.
Francisco Augusto de Araújo Lima, Famílias Cearenses.
[15] O Papa Pio XII ordenou um Ano Mariano entre dezembro de 1953 a dezembro de 1954, o primeiro da história da Igreja. Os católicos foram chamados para comemorar o centenário da definição do dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria.