terça-feira, 19 de outubro de 2021

A CASA BORIS E O COMÉRCIO SERRANO


A Casa Boris foi fundada em Fortaleza em 1869, inicialmente chamava-se de Theodore Boris & Irmãos, cujos sócios eram Alphonse e Theodore, franceses da cidade de Chambrey, da província de Alsácia-Lorena, tinham como lema “União, justiça, trabalho”.

Em 1871, juntava-se aos negócios, os irmãos Isaie Boris e os gêmeos Achille e Adrien, passando a denominar-se de Boris Frères, com o sociedade dos cinco irmãos que passaram a ser a principal exportadora de artigos cearenses, beneficiava e remetia rumo a Paris e Europa, o algodão, cera de carnaúba, borracha, couro, café, entre outros.

Além dessas exportações traziam para o Ceará diversos gêneros franceses, como produtos alimentícios, roupas e tecidos, perfumarias, decoração, mobília, cozinha, papelaria e escritório, mais adiante com o trânsito de maquinarias, carvão, madeira, material para a estradas de ferro que estava sendo feita com equipamentos ingleses, inclusive trouxerem a colossal estrutura de ferro fundido do Teatro José de Alencar.

Além do comércio marítimo, ainda eram representantes de vários bancos financiadores, inclusive do Banco do Brasil e do famoso Banco de Londres.

A Casa Boris mudou a maneira do comércio no Ceará, o que antes era restrito as feiras-livres, com vendedores-viajantes, que percorriam as mais diversas localidades da província e utilizavam mercadorias vindo de Pernambuco e despachadas pelo Porto de Aracati e comercializadas por cidadãos principalmente de Aquiraz e de outros regiões da ribeiras do Jaguaribe, passou agora a ser comercializados pela Casa Boris diretamente de Fortaleza (passara a ser a Capital no ano de 1799, quando foi criado a Província do Cearádesmembrada da de Pernambuco) para os maiores centros urbanos do interior, através de financiamento e abastecimento aos armarinhos e bodegas, tudo em centro estabelecido, assim as mercadorias vinham direto da Europa pela alfândega de Fortaleza e desta distribuídas por exclusividade pela Casa Boris.

Comercializava com todas as localidades importantes do Ceará, como Aracati, Sobral, Icó, Camocim, Itapipoca e com vários estados do Nordeste, Norte e Sudeste do País.[1]

Além das atividades já mencionadas vieram a adquirir e arrendar várias propriedade nas localidades como Serra Grande, Maciço de Baturité e Cariri, dedicadas aos plantios de café, maniçoba, cana-de-açúcar, depois até de mineração de cobre, tempos depois passaram a produção própria como na Fazenda Serra Verde, em Caririaçu.[2]

No Maciço de Baturité, não há como dissociar a Casa Boris com o crescimento do comércio e com o apogeu da produção de café e do breve ciclo da borracha de maniçoba, tudo intensificou-se a partir de 1878, com da chegada de Isaie Boris, que veio residir em Fortaleza, sendo que de logo passou a frequentar a Cidade de Baturité e a hospedar-se na Vila de Conceição da Serra, hoje Guaramiranga.

Um dos exemplo de impulsionamento do comércio é o de João Cordeiro, incentivado pela Casa Boris chega à Cidade de Baturité, com espírito irrequieto, cheio de iniciativas e com auxiliado de Isaias Boris, que lhe abriu crédito no valor de 100 contos (para aquela época, uma fortuna) fundou uma casa comercial cujo capital levantou prédio e instalou a Fábrica Proença. Neste estabelecimento iniciou a comercialização e industrialização de mil e um produtos como licores, vinagre, ginebra, sabão, óleos, resíduo, etc.[3]

Foi dessa maneira que em pouco tempo a Casa Boris já possuía 25 propriedades na Serra, que os arrendavam para produção ou com uso próprio, nessa época a Serra passava por uma expansão do cafeeiro, de um pequeno ciclo do cultivo da maniçoba[4] para produção de borracha (este com financiamento e acompanhamento dos sindicatos da Franca e da Inglaterra),[5] além das áreas reservadas para produção de cana-de-açúcar qual produzia rapadura e outras áreas para a tradicional produção de mandioca, milho e feijão destinado a subsistência.



O próprio Vice Cônsul da França, em 1888, adquiriu juntamente com os italianos da firma Justi Barsi & Irmão,[6] uma área desmembrada do Sítio Macapá (hoje compreendido as terras do Conjunto Frei Domingos até o local conhecido como Volta dos Cavalos), talvez proveniente de ativos da firma Rocha & Figueiredo,[7] qual denominou de Sítio Nancy,[8] mas passou pouco tempo aqui e teve que regressar a França, contudo manteve o Sítio em parte com o gerente Manuel Vitor de Holanda e outra arrendou para os irmãos italianos Barsi, qual a denominaram de Sítio Monte Grappa[9].


ÍNDICE DAS FOTOS:

Theodore Boris in Revista Costumes 7ª Edição, Fortaleza-Ce., Publicado em 17 de maio de 2012.

Procura de Maniçoba in Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940.

Agricultores de Baturité in Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940.

Casa do Sítio Monte Greppa na Rua do Comércio, hoje Rua Joaquim Alves Nogueira, in a Famílias Cearenses, de Francisco Augusto de Araújo Lima.

 

PARA SABER MAIS:

http://www.blogdealtaneira.com.br/2013/03/fazenda-serra-verde-franca-livre-dos.html?m=1

http://www.fortalezanobre.com.br/2013/02/casa-boris-freres.html

http://www.fortalezanobre.com.br/2009/11/ruas-de-fortaleza-mudancas-rua-boris.html


[1] Freitas, Antônio de Pádua Santiago de. Estrangeiros e Cultura Capitalista Ceará (1810-1916), in 1307726228_ARQUIVO_ESTRANGEIROSECULTURACAPITALISTACEARANOSECULOXIX-TEXTOCOMPLETO-ANPUH2011.pdf.

[2] Dentro das propriedades agrícolas da Casa Boris, ressalva-se a Fazenda Serra Verde, que no decorrer da sua estrondosa produção ampliou-se de seus 11 mil para 40 mil hectares, dando o origem ao atual Município de CaririaçuAchilles Boris havia levado do Sítio Nancy para gerenciá-lo o guaramiranguense Francisco Botelho, que depois passou a gerenciar todas propriedades agrícola do grupo, tempos depois, no ano de 1946, foi eleito prefeito de Caririaçu.

[3] Waldery Uchôa, in Anuário do Ceará 1953-1954 Volume Vol. I; 1953 – 1954.

[4] Com o crescimento das indústrias automobilísticas e elétricas durante o século XIX, aumentou-se a procura de matérias primas para fabricação da borracha, no Brasil o Piauí, Ceará e Bahia possuíam a maniçoba, de várias espécie sendo a M. Piauiensis Ule (maniçoba do remanso], que ocorre mais especificamente no Estado do Piauí, encontrando-se, também, na Bahia; a M. dichotoma Ule (maniçoba de Jequié), a M. heptaphylla Ule (maniçoba de S. Francisco) e M. Iyrata Ule, todas nativas das regiões secas da Bahia e, finalmente, M. glaziovii Mull. Arg. (maniçoba do Ceará), a princípio houve uma breve expansão da procura e de produção, chegando a corresponder a 62% das exportações piauienses, mas a partir do ano de 1896 e seguintes surgiu a super produção da seringueira Hevea brasiliensis L., no Norte do Brasil, que produzia um látex de melhor qualidade, consequente sendo abandonado ou reduzido a produção no Nordeste.

[5] A exemplo, veja um dos maiores sítios do Maciço de Baturité, o Sítio São Luís, que foi adquirido por meu avô Luiz Cícero Sampaio à Casa Boris, foi pago quase na sua totalidade com borracha e um pouco de couro de boi, boi este abatido para consumo no próprio Sítio, no início do século XX (in Nepomuceno, Francisco Luiz de Oliveira. As Moedas da Fazenda Bom Sucesso).

[6] Família italiana Barsi eram João Barsi que juntamente com seus irmão Augusto e César Barsi foram comerciantes em armarinhos na Vila de Conceição, o outros irmão Antônio Barsi, Edolo Barsi Guastuci e Estevão Barsi, eram sócios de Miguel Justi, em Fortaleza na Rua Formosa, nº 47  e na Praça do Ferreira, nº 27.

[7] O Vice Cônsul de Portugal no Ceará, Comendador Francisco Joaquim da Rocha (Sítio Macapá), comunica ao comércio desta Província com especialidade aos comerciantes e agricultores da cidade de Baturité, que nesta data contraiu sociedade agrícola e comercial com Manoel José d' Oliveira Figueiredo (Sítio Bonsucesso), que girará debaixo da firma de Rocha & Figueiredo. Iniciada em 31 de dezembro de 1874 até 03 de fevereiro de 1888, quando foi dissolveu a Sociedade Rocha & Figueiredo, com o Comendador Francisco Joaquim da Rocha, no melhor acordo e amizade. Cf. Jornal Constituição, 02.01.1875 e 11.02.1888 (in famílias cearenses de Francisco Augusto de Araújo Lima).

[8] Nancy foi a capital do Ducado da Lorena, que foi anexada pela França sob o rei Luís XV em 1766 e substituída por uma província com o nome Nancy mantida como capital. 

[9] Monte Grappa fica na província do Vêneto na Itália e pode ser visto de Bassano del Grappa e de outras cidadezinhas.


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