sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

MESTRE ZÉ XAVIER, UM GRANDE DIAMANTE QUE NÃO PODE SER LAPIDADO

 

MESTRE ZE XAVIER


Baseado em sua autobiografia


No Sítio São Salvador, no dia 25 de março do ano de 1893, nascia um menino, depois batizado pelo nome de José[1].


Seu pai dos afazeres de carpina, sonhando por algo melhor na vida, veio a embarcar aventuradamente para o norte das seringueiras, no ano de 1899, deixando todos sem notícias, ano seguinte sua mãe sofrida, logo ficou doente e veio a falecer, ficando órfão aos 7 anos de idade, seu pai só veio voltar quatros anos depois, mesmo assim muito adoentado e três meses após a chegada, veio também a falecer.


Frente a fome e a sede, foi mandado para morar com a viúva de seu padrinho, Porfírio Nogueira, residente no Sítio Pilar, no pé da subida à Serra, não se adaptando, foi socorrido pelo casal José Marinho de Góes e Angelina Ellery, que o enviaram ao Quixadá, passou a ser interno do mosteiro beneditino, até sua extinção em 1907, depois em 1909 entrou no colégio franciscano de Canindé.


Vendo que a vocação clérica não era seu destino, pediu ao casal José Marinho de Góes e Angelina Ellery, seus apadrinhadores, que o levasse para trabalhar em outro ofício, sendo que no ano de 1913, aos vinte anos de idade, veio morar no Sítio Logradouro.


Foi no Sítio Logradouro que o menino fez os primeiros contatos com o maquinismo, observando atentamente as engenhosidades das rodas d’aguas, das piladeiras de café e das moedeiras de cana-de-açúcar, decidindo ali seu ofício, esses objetos os seguiram pelo resto da sua vida, como o Mestre Zé Xavier.


cana de açúcar














Foi então que veio a se familiarizar com nomes como bitola, encabeçamento, pulha, diâmetro, ruelas ou duelas, raio de fundo, esfera, bigorna, passando a consertar, quando possível as máquinas piladeiras de café, que inicialmente eram as americanas das marcas Blymizar, Uruapâ, Engelbergues, depois as brasileiras Amaral por montagens, muito tempo depois, já no ano de 1940 aparecerem as genuínas nacionais, que ficaram conhecidas como máquinas penteadas, bem mais leves e com mecanismo mais simples,  que foram principalmente as das marcas Limeira e D’Andreia. Já as moageiras dos engenhos de cana-de-açúcar eram fabricadas na Inglaterra e na Alemanha, sendo o usado como força motriz, tanto na pilhagem do café como na moagem da cana-de-açúcar, inicialmente as quedas d’água e os rodeios puxados a burros, no ano de 1940 em diante, começaram a aparecer os primeiros motores a diesel importados, mas só os mais afortunados tinham capacidade de adquirir.


Piladeira de Café










Em seu dia a dia o Mestre Zé Xavier necessitou e começou a usar cálculos geométricos, com ou sem o uso do PI, para operações em circunferências, áreas, volumes, cubações, etc., tudo para serem usados nas construções dos moldes, que fazia ora de papelão, ora de madeira, para realização dos testes das engrenagens desgastadas ou danificadas, evitando perda de tempo na qualificação das novas peças, que também as fazia a ferro batido a bigorna ou torno, numa verdadeira engenharia reversa tupiniquim.


Em pouco tempo Mestre Zé Xavier, fez nome e era convidado para soluções dos enguiços, falhas, anomalias, defeitos e panes “pregos como passou ser chamado” dos mais diversos tipos de máquinas dos produtores serranos, assim deixou de ser exclusividade de José Marinho, para servir a Mattos-Britos, Caracas-Linhares, Holandas, etc.  


Com seu dom de fino trato com alvenaria, ferragens e carpintaria, construiu por completo a represa do Sítio Paquetá, de Jaime César Caracas, hoje de Amarílio Proença Macedo, com compotas de aço e outros itens modelados.


Represa Sítio Paquetá













Depois dos quarenta anos de idade Mestre Zé Xavier começou a observar perdas auditivas progressivas, ocasionados pelos intermitentes túmidos de trinados ferro a ferro, chegando a ficar totalmente surdo, mesmo assim, apenas diminuiu seu ritmo, passando nas horas vagas a compor músicas e versos, mas trabalhou até o final de sua vida, que ocorreu no Sítio Bonsucesso, no dia 19 do mês de novembro do ano de 1987, hoje Mestre Zé Xavier é relembrado com o nome de uma Rua que dá acesso ao Conjunto Frei Domingos.

Não temos culpa do Brasil ter esta mescla.

Desta harmonia vem o fim compensador.  

Não é defeito ser mestiço nesta terra.

O que nos honra é nossa vida de labor.


Se tivesse tido capacidade ou a sorte de realizar estudo completo de engenharia mecânica, talvez seria hoje um grande inventor patenteado ou industrial famoso.


[1] José Xavier Ribeiro Maia, nascido em 25 de março de 1893, no Sítio São Salvador, Guaramiranga, e falecido em 19 de novembro de 1987, no Sítio Bonsucesso, Guaramiranga, era filho de Francisco Xavier Ribeiro Maia, natural de Tabuleiro do Norte e de Maria Francisca do Amor Divino, natural de São João do Jaguaribe, foi casado com Gertrudes Ferreira Barros, que era filha de Miguel Ferreira de Barros e de Maria Ferreira Barros, natural de Vale do Choró, Quixadá.

 

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