sexta-feira, 5 de agosto de 2011

GUARAMIRANGA FNT - ENTREVISTA O POVO COM EDSON CÂNDIDO - Abajur Lilás

EDSON CÂNDIDO
No dia 25 último, quando tomou conhecimento de que, enfim, havia conseguido classificar um espetáculo para a disputada Mostra Nordeste, do Festival de Teatro de Guaramiranga, o diretor Edson Cândido, não se conteve e resumiu o feito como uma “vitória”. Edson e seu Grupo Imagens, que se prepara para comemorar sua primeira década de atuação, sobem a serra com o espetáculo Abajur Lilás, mais um da lavra de Plínio Marcos que a companhia tem experimentado. Ao todo, 16 artistas se dividem em cena para retratar um drama de tipos marginais.
Representando o Ceará ao lado do Grupo Ninho, que traz do Cariri a montagem Charivari, com texto de Lourdes Ramalho e direção Duílio Cunha, o Grupo Imagens, há muito, circula o País por mostras de teatro de grande destaque. Nessas andanças, como reforça Edson Cândido na entrevista a seguir, o Festival de Guaramiranga foi se consolidando para o coletivo como uma estratégia quase que vital. Para Cândido, o evento representa uma vitrine essencial para o teatro nordestino contemporâneo, além de ser uma referência para o conjunto do teatro nacional. Por tudo isso, o diretor comemora a primeira participação da companhia na mostra principal da programação e cobra do poder público uma atenção maior para o festival.
O POVO - Com quase 10 anos de história e passagens em importantes festivais de teatro Brasil afora, por que tanto entusiasmo e alegria do Grupo Imagens com a seleção para Mostra Nordeste do próximo Festival de Guaramiranga?
Edson Cândido - Nós ficamos, de fato, muito felizes. Há tempos, vínhamos tentando. Eu acredito que a maior força de Guaramiranga está na sua dimensão local. O Festival de Guaramiranga é responsável por revelar grandes grupos do teatro nordestino contemporâneo, a exemplo do pessoal do Bagaceira, daqui de Fortaleza, e do Clowns de Shakespeare, de Natal, no Rio Grande do Norte. Então, a gente tinha esse sonho de participar. Já tínhamos participado outras vezes na programação paralela, mas estar na Mostra Nordeste tem todo um outro diferencial, uma importância muito maior.
O POVO - Qual o grande diferencial do Festival de Guaramiranga para os artistas que participam ou que desejam participar de sua programação?
Edson Cândido - O melhor do Festival de Teatro de Guaramiranga é o que vem depois dele. Guaramiranga é uma vitrine importante para outros festivais do País. Além de ser um espaço importante para troca de experiências, uma escola livre, onde a gente repensa o nosso trabalho, é um lugar estratégico para o artista estabelecer contatos, quer profissionais ou intelectuais. Guaramiranga, para mim e para os demais integrantes do Grupo Imagens, é como se fosse uma ponte, um meio de levar a gente de forma mais rápida para o local que desejamos.
O POVO - Nessa trajetória da companhia, a participação em festivais tem sido uma constante. Brasil afora, que leitura os programadores e os outros artistas têm do Festival de Guaramiranga? Nós estamos, de fato, falando de uma experiência que se destaca nacionalmente?
Edson Cândido - Sim. O Festival de Guaramiranga é uma referência de Nordeste, de teatro nordestino, para todo o País. Guaramiranga é, sem dúvida, uma referência nacional quando se fala de teatro. Quando a gente chega num determinado local e diz que é do Ceará, as pessoas imediatamente relacionam o nosso teatro ao Festival de Guaramiranga. As pessoas, muitas vezes, não sabem nada do Nordeste ou nada do Ceará, mas têm Guaramiranga como uma referência. É impressionante.
O POVO - Vocês já tinham passado por Guaramiranga na programação paralela. Esses espaços outros da programação também são interessantes?
Edson Cândido - São, sim. Sobretudo, para quem está começando. A trajetória artística, a meu ver, é uma escada, que reflete uma espécie de amadurecimento. Vejo a nossa seleção para a Mostra Nordeste como uma consequência do nosso amadurecimento e, também, como um reconhecimento do nosso trabalho. Tudo tem seu tempo. A gente não pode começar um grupo e já querer estar num local de destaque. Na arte, é tudo um processo a longo prazo.
O POVO - De forma bem pragmática, Guaramiranga parece ter mais pontos positivos que negativos. No entanto, o festival está longe de ser uma unanimidade. Para você, o que evento tem de excepcional e o que tem de crítico, de condenável?
Edson Cândido - De positivo, eu diria que o festival tem a ênfase ao trabalho do teatro de grupo e o deslocamento do foco produtivo que promove para o teatro nacional. Enquanto todos olham para o Sul e o Sudeste e insistem em ver ali o único centro do teatro nacional, Guaramiranga prova que há um teatro intenso fora desse circuito. Isso é extraordinário. De negativo, o festival tem sua própria estrutura. A cidade cresceu muito, mas não melhorou sua estrutura cultural, que diga o teatro que está interditado. Além disso, falta a Guaramiranga um aporte financeiro maior. É muito limitado o cachê que a organização oferece e isso acaba por inviabilizar a participação de alguns grupos.
O POVO - No que diz respeito a essa questão financeira, você diria que falta um entendimento do poder público da real dimensão desse festival?
Edson Cândido - Isso é um fato. Eu, sinceramente, não sei a que veio essa atual gestão da Secretaria da Cultura do Estado. A sensação que tenho é que a política no Ceará só tem atrapalhado a cultura. Um governador se elege e, em vez de pensar em escolher uma pessoa para a secretaria que possa de fato dinamizar a nossa cultura, põe qualquer um lá por mero compromisso com um partido que lhe apoiou na eleição.
O POVO - E com relação à interdição do Teatro Rachel de Queiroz? Como o Grupo Imagens olha para essa edição do Festival de Guaramiranga, que acontece com o seu principal espaço de programação com as portas fechadas?
Edson Cândido - Isso é lastimável. Até o ano passado, nós tínhamos na Secretaria da Cultura um secretário que falava muito e não fazia nada. Agora, temos um que nem fala, nem faz. É um crime o que estão fazendo com Guaramiranga. O formato de Guaramiranga em 2011 não foi uma opção, mas, sim, uma necessidade. Isso é vergonhoso. De toda forma, o festival merece parabéns pela teimosia. A organização poderia muito bem ter cancelado a edição por falta de estrutura, mas, não. Diante do problema com o Teatro Rachel de Queiroz, encontrou uma alternativa que vai dar um novo ânimo à programação. Mesmo assim, não é justo que aquele teatro continue inacabado. O Ceará precisa do teatro de Guaramiranga.
FONTE:
 logoRodape

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