segunda-feira, 15 de novembro de 2021

JOSÉ MARINHO DE GÓES, A SAGA DE UM BENFEITOR

JOSÉ MARINHO FALCÃO DE GÓES, nasceu em Quixadá no dia 21 de fevereiro de 1876, era filho de Major Gaudioso Simão de Castro Góes e de Joanna Lydia Barreiro Marinho Falcão, foi casado com sua prima ANGELINA DE GÓES SALDANHA ELLERY (depois ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES), filha de Eduardo Saldanha Ellery e de Angélica de Castro Góes

Ficou órfão de pai aos 9 anos de idade, em 1893, aos 17 anos embarcou para Europa onde formou-se em Agronomia, na cidade de Louvain, na Bélgica, de volta ao novo mundo, foi residir com a mãe no Sítio São José, em Guaramiranga.  

Em 1905, após a construção da casa, JOSÉ MARINHO passou a residir no Sítio Logradouro, vizinho ao Sítio São José, adquirido junto a firma Boris & Frères, por trinta e cinco mil contos de reis.

JOSÉ MARINHO GÓES ao regressar da Europa encontra uma Serra em franca decadência, consequência do empobrecimento e dívidas dos produtores de café[1], sendo um homem de visão acreditou na recuperação e já em 1940 era proprietário de oito sítios em Guaramiranga, tais sejam: Sítio Nancy e Casablanca, Sítio São José e Logradouro, Sítio Sobradinho, Sítio Batalha (depois viria a ser o campo de fruticultura do governo federal), Sítio Estados Unidos e Sítio Assaré. Sem falar em outros fora de Guaramiranga, como os Sítio Tijuco e Tijuquinha, em Baturité, Pau d'Alho, em Pacoti, e Fazenda Cachoeira, em Uruquê, Quixeramobim.

Mas o que diferenciou JOSÉ MARINHO GÓES dos demais homens do seu tempo, foi a benevolência com a causa pública, a religiosidade e a humanidade, veja os feitos:

O casal JOSÉ MARINHO GÓES e ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES a pedido do Frei Reinaldo Marinho de Itapipoca, fizeram por volta de 1940, a doação de parte do Sítio Nancy, que confinava com a área do Convento da Gruta, doada por D. Ana Felícia Caracas, ampliando a área dos frades até as margens do Riacho Nancy, possibilitando-os realizarem plantações de hortaliças e pomares, a nova área também proporcionou uma melhor contemplação à natureza, como era esse o desejo deles.[2] 

Sempre preocupada com a educação dos menos favorecidos, D. ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES,[3] em 18 de outubro de 1954, fez doação de todo o restante do Sítio Nancy a Arquidiocese de Fortaleza, com a promessa de que nele fosse instalado um “serviço social de proteção aos meninos pobres de Guaramiranga”, ficando o imóvel administrado pelo Padre Dourado.[4]

A benevolência a causa pública deu-se ainda antes da emancipação do Munícipio, quando doa uma parte do Sítio Nancy ao então Munícipio de Pacoti, destinado a construção do prédio dos correios e para construção de uma praça pública no então Distrito de Guaramiranga.[5]

Nesse imóvel foi inaugurado no dia da emancipação do município de Guaramiranga, o Posto de Saúde e Puericultura de Guaramiranga, que levou o nome da doadora ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES, foto abaixo a época, de Levi Jucá e da atualidade do Google Maps.



JOSÉ MARINHO GÓES e ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES sempre se preocuparam com a educação e formação profissional dos mais carentes. Sendo pessoas extremamente caridosas, criaram e educaram muitas crianças até a idade adulta: sobrinhos, afilhados e filhos de parentes ou de velhos conhecidos. Alguns se tornara padres e freiras por seu intermédio. Financiaram estudos, livros e usaram toda influência para conseguir vagas em internatos, seminários e conventos.

O casal não teve filhos, mas perfilhou seu sobrinho José Ellery Marinho de Góes, nascido em 23 de Outubro de 1923 que casou com Maria Emília de Mattos Brito Góes.

Esse casal José Ellery Marinho de Góes e Maria Emília de Mattos Brito Góes ainda fizeram doação de uma área desmembrada do Sítio Nancy, para que fosse aberta uma estrada ligando a Rua Raimundo Nonato da Costa a CE065, que leva a Baturité ou Pacoti, que depois passou a denominar-se de Av. Vicente Soares.[6]

O casal José Ellery Marinho de Góes e Maria Emília de Mattos Brito Góes ainda doaram ao município parte do Sítio Monte Greppo, onde hoje se encontra o prédio do Fórum, construído pelo Desembargador José Maria de Melo, doação do imóvel realizada pela prefeitura, bem como do prédio do Teatrinho, ambos construídos na administração do prefeito Dráulio Holanda.  

Com colaboração dos escritos de Cláudia Góes.   


[1] O plantio usual na Serra com temperatura alta ao dia de pleno sol, quando da florada para uma fecundação ideal o cafeeiro exige uma temperatura constante entre 18-22 graus centígrados, caso contrário, as flores abortam e reduzem a produção, notadamente nas plantações mais antigas, o solo também não ajudava, já chegando aos 100 anos da introdução do café nos solos serranos, nos idos do ano de 1822, já eram visíveis o adensamento dos solos, fruto do uso inadequado nas terras íngremes, sem a menor consciência de utilização de técnicas de conservação do solo; tudo aliado a própria queda do preço no mercado internacional, causado pela superprodução no Sul do País e na Colômbia e países asiáticos. Culminando fatalmente com a queda da bolsa de 1929.   

[2] D. ANGELINA ELLERY MARINHO DE GÓES era muito religiosa, trouxeram para Pacoti as irmãs da Congregação de São Vicente de Paulo, de origem francesa, doando para elas a primeira casa onde funcionou inicialmente o Patronato Imaculada Conceição, fundado em 1º de maio de 1932 e logo depois toda a área do atual Instituto Maria Imaculada.

[3] JOSÉ MARINHO FALCÃO DE GÓES já havia falecido no Rio de Janeiro, em 3 de março de 1945, D. ANGELINA faleceu em Fortaleza, em 8 de janeiro de 1958.

[4] Lamentavelmente a propriedade voltou aos familiares do casal, por força de uma cláusula contratual qual estipulava que, se depois de decorridos cinco anos não fossem cumpridas as finalidades acordadas na doação, a propriedade voltaria ao patrimônio dos doadores. O que só aconteceu depois de decorridos dezoito anos, em 3 de maio e 1972.  

[5] Hoje, o imóvel doado ainda se destina ao funcionamento dos Correios, da praça em frente à Prefeitura, que leva seu nome, sendo ainda que nele também foi construído o chamado Centro Comunitário, realizado na administração do governador Adauto Bezerra e do prefeito Capitão Macário Nery, tempos depois a quadra poliesportiva passou para o domínio do Estado do Ceará e o restante passou a funcionar a atual Secretaria de Ação  Social do Município, grande número de outros prédios públicos estão na segunda metade deste imóvel, como a Câmara Municipal,  a Secretaria da Educação e da Infraestrutura (obras), estes três ainda construídos na administração do prefeito Francisco Farias Filho (Fariínha), a Creche Rita Célia, o Espaço Sempre Viva (atenção a deficientes), o Instituto de Previdência Municipal e outros.

[6] Essa é a principal via que dá acesso ao Conjunto Frei Domingos, uma área originada de parte do Sítio Nancy, que antes havia sido doado aos Capuchinhos, posteriormente Frei Domingos loteou aos pobres de Guaramiranga.  

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

QUINCAS ALVES, O PERCUSOR DO SUPERMERCADO

 

QUINCAS MARQUES

Joaquim Alves Nogueira, popularmente conhecido como Quincas Alves, nasceu na Vila de Pernambuquinho, em 12 de dezembro de 1881, desde cedo iniciou-se no comércio ajudando os afazeres do pai, Marcos Alves de Souza[1] que era um grande comerciante-viajante e abastecia diversas feiras-livres pelo interior do Ceará.

Ao lado do Sobrado[2] construído pelo Padre José Raimundo Batista de Oliveira para servir de casa paroquial e local onde ensinava o latim, era a casa onde Quincas Alves nasceu e viveu toda sua infância e adolescência, de uma família de três irmãos: José Alves Marques (Zeca Alves), Francisco Alves Nogueira e Luiza Alves Nogueira (Lily Nogueira).

Os filhos do comerciante Marcos Alves de Souza fundaram a firma Marcos & Filhos, onde posteriormente se transferiram para a Vila de Guaramiranga, onde individualmente Quincas Alves e Zeca Alves passaram a negociar na Rua do Comércio, rua onde hoje leva o nome de Joaquim Alves Nogueira.

Quincas Alves casou-se em 5 de março de 1927, com uma distinta moça do lugar, Maria Odete de Argollo Caracas, que residia no Sítio São Salvador, natural de Salvador da Bahia, nascida em 19 de abril de 1891, era filha de Francisco Pacífico Caracas, primeiro engenheiro agrônomo do Ceará, formado na turma de 1884 da Imperial Escola Agrícola da Bahia e da baiana Rita Flávia de Argollo Caracas.

O estabelecimento de Quincas Alves era o maior empório comercial de toda a região, abastecia todos as mercearias serranas e parte das dos sertão de Caridade, diziam a época que ele vendia da agulha ao avião.

Quincas Alves pode ser considerado o percusor do supermercado[3], pois já na década de vinte, mantinha seu comércio livre para escolha pelo cliente do que queria abastecer-se e só depois era que se dirigia ao proprietário ou caixeiro para pagamentos ou para embrulho, eram vários cômodos de locais próprio, onde um era armazéns de secos e molhados geralmente vendidos a granel[4], noutras salas ou divisão para empórios como tecidos, cordas e cordões de algodão, botões, arames e bronzeados, enfeites e floridos, noutras reservados para recipientes com querosene, álcool, carbureto de acetileno, mudas, madeiras, pregos, celas e cangalhas, ferramentas agrícolas e de ofícios, utensílios domésticos de louça ou de agde, etc.[5]

Além de exímio comerciante, Quincas Alves destacou-se na agricultura, sendo o pioneiro na produção de borracha de maniçoba, quando na alta procura, os revendia para exportação em bom preço, como também foi o introdutor da bananicultura no região serrana, que produzia em larga escala em seus sítios e fazendas nos municípios de Guaramiranga, Pacoti, Mulungu, Baturité, Caridade, Canindé e até Fortaleza.

Por fim, Quincas Alves, foi um autodidata, não sei se por influência da educação recebida do padre, tendo mantido assíduas correspondências com os acadêmicos Humberto de Campos e Gustavo Barroso, com o poeta e escritor Mário Linhares, qual gozava de um especial estima, como se atestam pelas dedicatórias que faziam em suas obras, bem como, do jurista e professor José Waldo Ribeiro Ramos.


[1] O Alferes Marcos Alves de Souza, nascido no Arraial da Telha, da Vila de Tamboril, era filho de Joaquim Alves de Oliveira e de Joana Batista do Nascimento, ainda solteiro passou a comercializar na feira-livre da Vila de Pernambuquinho, vindo a convite de seu amigo e parente, Padre José Raimundo Batista de Oliveira, capelão da Igreja de Senhor do Bomfim (dizem que ambos eram da mesma família do Padre Cícero Romão Batista), inclusive tendo casado nessa igreja em 1º de novembro de 1879 com Maria Albina de Miranda, depois Maria Nogueira de Souza, nascida na Freguesia das Russas e que era filha de José Nogueira de Miranda e de Teresa Olinda de Miranda (in Cf. Francisco Augusto de Araújo Lima. Famílias Cearenses Treze – Siará Grande - Uma Província Portuguesa no Nordeste Oriental do Brasil. Ed. Expressão Gráfica. Fortaleza. 2016. Quatro Volumes. 2.300 p. Cf. CD8 L3 Ób 46 e Russas CD8. Cf. Russas CD8 L4 cas 139). 

[2] Em 1873, chega de Olinda, Pernambuco, para vigariar o templo de Senhor do Bomfim, que foi construído em 1871, na Vila de Pernambuquinho, outrora chamado de Arraial do Riacho das Cobras, o Padre José Raimundo Batista de Oliveira, de logo iniciou a construção do sobrado que seria sua residência, feita com uma solidez que até hoje sobrevive em pé, permaneceu em Pernambuquinho até o ano de 1897, quando foi vigariar a paróquia de Pentecoste, na sua ausência o Sobrado ficou desabitado, vindo o padre a falecer em Sobral, na data de 14/03/1918, desta data o imóvel ficou ocupado pela Professora Dinorá Viera Linhares, casada com Manoel de Abreu Mota, que residia e nele lecionava a cadeira reunidas (masculino e feminina), forma recém permitida pela Reforma Educacional do Ceará, datada de 1922, o casal porém nos anos finais da década de trinta foram embora para o Rio de Janeiro, sendo o imóvel vendido pelos familiares ao Dr. João Otávio Lobo, então médico particular de D. Libânia de Holanda, do Sítio Uruguaia, que passou a frequenta periodicamente a Serra, e, em 1940, o Sobrado foi adquirido por Lauro e Carmen Chaves, descendentes do Barão de Camocim, que permanece em família até hoje. 

[3] Não há um consenso sobre onde e quando surgiu os supermercados, mas com certeza é uma criação do século vinte, costuma-se dar o título do primeiro supermercado ao chamado “King Kullen”, que foi inaugurado em 1930, no bairro de Queens, em Nova York, pelo empresário americano Michael Cullen. Nos anos 50, os supermercados chegaram à Europa e ao Brasil. As primeiras aparições surgiram em 1953 em São Paulo e o estabelecimento “Sirva-se” é considerando o primeiro do gênero no Brasil. 

[4] Os fregueses entravam e escolhiam os produtos que ficavam expostos em sacos abertos (Secos como milho, arroz, macarrão, rapadura, café em pó, fubá, leite em pó, achocolatado, massas, açúcar, farinha, feijão, frutas secas, carne-seca, sal, fumo em rolo, etc. e molhados como leite, óleos e banhas, azeites, vinhos, cachaça e zinebras, etc.).  

[5] Em reportagem no Diário do Nordeste (DN de 23/04/2005, fls. 02), o libanês Irmes Gottlieb expos o seguinte comentário: “Quero prestar uma homenagem, a Quincas Alves, por considerá-lo o pioneiro dos super mercados no Ceará. Com o tipo comercial e a coragem, ele se estabeleceu com uma loja, verdadeiro empório, onde, abastecia todos os serranos do Maciço de Baturité. Nem Fortaleza, me faz lembra, uma loja comercial daquele porte.

SAIBA MAIS SOBRE JOAQUIM ALVES NOGUEIRA OU QUINCAS ALVES  


    

SAIBA MAIS SOBRE O SOBRADO DO PADRE JOSÉ RAIMUNDO BATISTA DE OLIVEIRA (REPORTAGEM DA TV ASSEMBLEIA SOBRE A FAMÍLIA DE LAURO E CARMEN CHAVES, DESCEDENTES DO BARÃO DE CAMOCIM.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

PROF. JÚLIO CÉSAR DE HOLANDA

 

 

Por Francisco Marcélio de Almeida Farias

Júlio César de Holanda era filho de Francisco de Assis Holanda e de Maria de Jesus Correia, proprietários do Sítio Abreu, tendo nascido em Quixadá, na data de 25 de fevereiro de 1869. Formou seu extenso currículo nos melhores centros europeus, onde partiu ainda muito novo, adquiriu vasto conhecimento de métodos pedagógicos modernos para a época, foi um grande poliglota.

De espírito efetivo para a arte de ensinar, voltando da Europa, no ano de 1899, logo passou a lecionar no Colégio Santo Estevão, em Quixadá, pertencente aos frades beneditinos, religioso de origem germânica, com o fechamento do colégio e a partida destes em 1907, o Prof. Júlio César de Holanda adquiriu parte do acervo material do colégio e em 1910 inaugurou o Ginásio de Guaramiranga, funcionando no prédio do sobradão do Coronel Dadá (onde hoje funciona o Colégio Júlio Holanda).

O Prof. Júlio César de Holanda também funda em 1925, o Instituto São José de Guaramiranga, onde passa a lecionar por longos anos (prédio na Rua do Comércio, hoje Rua Joaquim Alves Nogueira, onde era a o antigo “bazar da handara”), na mesma época, também passa a dirigir o Colégio São Luiz, em Pacoti.

Faleceu em Fortaleza na data de 03 de maio de 1945. 

Hoje é dado homenagem ao Prof. Júlio César de Holanda, com nome do colégio municipal da cidade e de uma rua que passa ao lado. 

FOTOS: Famílias Cearenses, de Francisco Augusto de Araújo Lima.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

A CASA BORIS E O COMÉRCIO SERRANO


A Casa Boris foi fundada em Fortaleza em 1869, inicialmente chamava-se de Theodore Boris & Irmãos, cujos sócios eram Alphonse e Theodore, franceses da cidade de Chambrey, da província de Alsácia-Lorena, tinham como lema “União, justiça, trabalho”.

Em 1871, juntava-se aos negócios, os irmãos Isaie Boris e os gêmeos Achille e Adrien, passando a denominar-se de Boris Frères, com o sociedade dos cinco irmãos que passaram a ser a principal exportadora de artigos cearenses, beneficiava e remetia rumo a Paris e Europa, o algodão, cera de carnaúba, borracha, couro, café, entre outros.

Além dessas exportações traziam para o Ceará diversos gêneros franceses, como produtos alimentícios, roupas e tecidos, perfumarias, decoração, mobília, cozinha, papelaria e escritório, mais adiante com o trânsito de maquinarias, carvão, madeira, material para a estradas de ferro que estava sendo feita com equipamentos ingleses, inclusive trouxerem a colossal estrutura de ferro fundido do Teatro José de Alencar.

Além do comércio marítimo, ainda eram representantes de vários bancos financiadores, inclusive do Banco do Brasil e do famoso Banco de Londres.

A Casa Boris mudou a maneira do comércio no Ceará, o que antes era restrito as feiras-livres, com vendedores-viajantes, que percorriam as mais diversas localidades da província e utilizavam mercadorias vindo de Pernambuco e despachadas pelo Porto de Aracati e comercializadas por cidadãos principalmente de Aquiraz e de outros regiões da ribeiras do Jaguaribe, passou agora a ser comercializados pela Casa Boris diretamente de Fortaleza (passara a ser a Capital no ano de 1799, quando foi criado a Província do Cearádesmembrada da de Pernambuco) para os maiores centros urbanos do interior, através de financiamento e abastecimento aos armarinhos e bodegas, tudo em centro estabelecido, assim as mercadorias vinham direto da Europa pela alfândega de Fortaleza e desta distribuídas por exclusividade pela Casa Boris.

Comercializava com todas as localidades importantes do Ceará, como Aracati, Sobral, Icó, Camocim, Itapipoca e com vários estados do Nordeste, Norte e Sudeste do País.[1]

Além das atividades já mencionadas vieram a adquirir e arrendar várias propriedade nas localidades como Serra Grande, Maciço de Baturité e Cariri, dedicadas aos plantios de café, maniçoba, cana-de-açúcar, depois até de mineração de cobre, tempos depois passaram a produção própria como na Fazenda Serra Verde, em Caririaçu.[2]

No Maciço de Baturité, não há como dissociar a Casa Boris com o crescimento do comércio e com o apogeu da produção de café e do breve ciclo da borracha de maniçoba, tudo intensificou-se a partir de 1878, com da chegada de Isaie Boris, que veio residir em Fortaleza, sendo que de logo passou a frequentar a Cidade de Baturité e a hospedar-se na Vila de Conceição da Serra, hoje Guaramiranga.

Um dos exemplo de impulsionamento do comércio é o de João Cordeiro, incentivado pela Casa Boris chega à Cidade de Baturité, com espírito irrequieto, cheio de iniciativas e com auxiliado de Isaias Boris, que lhe abriu crédito no valor de 100 contos (para aquela época, uma fortuna) fundou uma casa comercial cujo capital levantou prédio e instalou a Fábrica Proença. Neste estabelecimento iniciou a comercialização e industrialização de mil e um produtos como licores, vinagre, ginebra, sabão, óleos, resíduo, etc.[3]

Foi dessa maneira que em pouco tempo a Casa Boris já possuía 25 propriedades na Serra, que os arrendavam para produção ou com uso próprio, nessa época a Serra passava por uma expansão do cafeeiro, de um pequeno ciclo do cultivo da maniçoba[4] para produção de borracha (este com financiamento e acompanhamento dos sindicatos da Franca e da Inglaterra),[5] além das áreas reservadas para produção de cana-de-açúcar qual produzia rapadura e outras áreas para a tradicional produção de mandioca, milho e feijão destinado a subsistência.



O próprio Vice Cônsul da França, em 1888, adquiriu juntamente com os italianos da firma Justi Barsi & Irmão,[6] uma área desmembrada do Sítio Macapá (hoje compreendido as terras do Conjunto Frei Domingos até o local conhecido como Volta dos Cavalos), talvez proveniente de ativos da firma Rocha & Figueiredo,[7] qual denominou de Sítio Nancy,[8] mas passou pouco tempo aqui e teve que regressar a França, contudo manteve o Sítio em parte com o gerente Manuel Vitor de Holanda e outra arrendou para os irmãos italianos Barsi, qual a denominaram de Sítio Monte Grappa[9].


ÍNDICE DAS FOTOS:

Theodore Boris in Revista Costumes 7ª Edição, Fortaleza-Ce., Publicado em 17 de maio de 2012.

Procura de Maniçoba in Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940.

Agricultores de Baturité in Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940.

Casa do Sítio Monte Greppa na Rua do Comércio, hoje Rua Joaquim Alves Nogueira, in a Famílias Cearenses, de Francisco Augusto de Araújo Lima.

 

PARA SABER MAIS:

http://www.blogdealtaneira.com.br/2013/03/fazenda-serra-verde-franca-livre-dos.html?m=1

http://www.fortalezanobre.com.br/2013/02/casa-boris-freres.html

http://www.fortalezanobre.com.br/2009/11/ruas-de-fortaleza-mudancas-rua-boris.html


[1] Freitas, Antônio de Pádua Santiago de. Estrangeiros e Cultura Capitalista Ceará (1810-1916), in 1307726228_ARQUIVO_ESTRANGEIROSECULTURACAPITALISTACEARANOSECULOXIX-TEXTOCOMPLETO-ANPUH2011.pdf.

[2] Dentro das propriedades agrícolas da Casa Boris, ressalva-se a Fazenda Serra Verde, que no decorrer da sua estrondosa produção ampliou-se de seus 11 mil para 40 mil hectares, dando o origem ao atual Município de CaririaçuAchilles Boris havia levado do Sítio Nancy para gerenciá-lo o guaramiranguense Francisco Botelho, que depois passou a gerenciar todas propriedades agrícola do grupo, tempos depois, no ano de 1946, foi eleito prefeito de Caririaçu.

[3] Waldery Uchôa, in Anuário do Ceará 1953-1954 Volume Vol. I; 1953 – 1954.

[4] Com o crescimento das indústrias automobilísticas e elétricas durante o século XIX, aumentou-se a procura de matérias primas para fabricação da borracha, no Brasil o Piauí, Ceará e Bahia possuíam a maniçoba, de várias espécie sendo a M. Piauiensis Ule (maniçoba do remanso], que ocorre mais especificamente no Estado do Piauí, encontrando-se, também, na Bahia; a M. dichotoma Ule (maniçoba de Jequié), a M. heptaphylla Ule (maniçoba de S. Francisco) e M. Iyrata Ule, todas nativas das regiões secas da Bahia e, finalmente, M. glaziovii Mull. Arg. (maniçoba do Ceará), a princípio houve uma breve expansão da procura e de produção, chegando a corresponder a 62% das exportações piauienses, mas a partir do ano de 1896 e seguintes surgiu a super produção da seringueira Hevea brasiliensis L., no Norte do Brasil, que produzia um látex de melhor qualidade, consequente sendo abandonado ou reduzido a produção no Nordeste.

[5] A exemplo, veja um dos maiores sítios do Maciço de Baturité, o Sítio São Luís, que foi adquirido por meu avô Luiz Cícero Sampaio à Casa Boris, foi pago quase na sua totalidade com borracha e um pouco de couro de boi, boi este abatido para consumo no próprio Sítio, no início do século XX (in Nepomuceno, Francisco Luiz de Oliveira. As Moedas da Fazenda Bom Sucesso).

[6] Família italiana Barsi eram João Barsi que juntamente com seus irmão Augusto e César Barsi foram comerciantes em armarinhos na Vila de Conceição, o outros irmão Antônio Barsi, Edolo Barsi Guastuci e Estevão Barsi, eram sócios de Miguel Justi, em Fortaleza na Rua Formosa, nº 47  e na Praça do Ferreira, nº 27.

[7] O Vice Cônsul de Portugal no Ceará, Comendador Francisco Joaquim da Rocha (Sítio Macapá), comunica ao comércio desta Província com especialidade aos comerciantes e agricultores da cidade de Baturité, que nesta data contraiu sociedade agrícola e comercial com Manoel José d' Oliveira Figueiredo (Sítio Bonsucesso), que girará debaixo da firma de Rocha & Figueiredo. Iniciada em 31 de dezembro de 1874 até 03 de fevereiro de 1888, quando foi dissolveu a Sociedade Rocha & Figueiredo, com o Comendador Francisco Joaquim da Rocha, no melhor acordo e amizade. Cf. Jornal Constituição, 02.01.1875 e 11.02.1888 (in famílias cearenses de Francisco Augusto de Araújo Lima).

[8] Nancy foi a capital do Ducado da Lorena, que foi anexada pela França sob o rei Luís XV em 1766 e substituída por uma província com o nome Nancy mantida como capital. 

[9] Monte Grappa fica na província do Vêneto na Itália e pode ser visto de Bassano del Grappa e de outras cidadezinhas.


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